sexta-feira, 22 de maio de 2009

BERTOLD BRECHT

Desconfiai do mais trivial,
Na aparência do singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceites o que é de hábito
Como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta,
De confusão organizada
de arbitrariedade consciente
de humanidade desumanizada,
Nada deve parecer natural
Nada deve parecer impossível de mudar.
Bertold Brecht





O ideal é buscar uma escola transformadora Humanista e Criativa contribuindo para formação do Ser através do conviver e do conhecer com o pensar reflexivo.
A partir do Poema de Bertold Brecht, procure refletir sobre quais são as possibilidades de mudança no cenário de desigualdades sociais e educacionais.
O poema acima chama o leitor à reflexão sobre aquilo que nos acostumamos. Toda visão por mais aterrorizante que seja se tivermos que conviver com ela frequentemente logo aceitaremos aquele horror como “normal”.


Em 2002 eu passei em primeiro lugar em um concurso público para a polícia judiciária, até ai nada de mais, o negócio é que o cargo era de Auxiliar de Necropsia, ou seja, teria que “dissecar” cadáveres de homens e mulheres, crianças e velhos que tiveram mortes violentas.

Antes de tomar posse do cargo, solicitei autorização ao médico-chefe, doutor Edson Fuim para poder participar como espectador das necropsias. A primeira necropsia eu fiquei chocado, vendo um ser humano que acabara de morrer ser “rasgado” como um boneco, o sangue ser colhido do seu corpo com uma concha para ser encaminhado para análise, seu cérebro ser desentranhado da cavidade craniana, entre outras cenas horríveis.

Quase desmaiei com aquelas cenas, mas na segunda necropsia já me sentia mais a vontade. Bastaram alguns dias e eu já me sentia habituado. Acabei não aceitando o cargo público porque havia passado em outro concurso mais agradável e melhor remunerado, mas nunca esqueço a lição de que se fosse preciso eu aceitaria novo hábito.

Mas trabalhar com necropsia policial não é o mal citado pelo Poeta. Bertold tinha em mente ao escrever este texto acima, outro tipo de conformismo, o conformismo com os males da sociedade, a desumanidade, o aceitar a injustiça como coisa corriqueira. O pior do ser humano é quando perdemos a capacidade de se indignar com o Mal.

Devemos buscar a revolução, não a revolução bolchevista, ou comunista, mas a revolução íntima, se cada um procurar mudar a si mesmo, já estará contribuindo para a mudança do mundo, se conseguirmos incitar-nos a nós mesmos a mudarmos já estaremos transformando a sociedade.

As desigualdades sociais não serão corrigidas com invasões de terras, matando os ricos e os membros da oligarquia, Esta é uma política de substituição de um grupo dominante por outros. O que precisamos é conscientizar os que possuem terras a serem generosos para que outros possam plantar e colher e todos possam viver bem. Não precisamos matar os ricos e sim criar novos ricos, dando oportunidades para que pessoas empreendedoras também consigam sucesso em suas empreitadas.

Na educação a evolução também deve seguir o mesmo parâmetro, ou seja, não é exterminando os que estão no poder, mas criando escolas públicas com padrões de escolas particulares.

As mudanças geram conflitos de interesses, daqueles que já estão “habituados” as mordomias da sua condição e a indignação daqueles que não se conformam com subjugação opressiva.

“Nada deve parecer natural”, faz-me lembrar que durante séculos, tratarem os negros como criaturas inferiores era “natural”. Vários seguimentos do cristianismo acreditavam que os negros não tinham almas. No começo do século XX, li um periódico da época, das Testemunhas de Jeová, a revista “Watchtower” que dizia em um artigo que “os negros deveriam se assentar nas galerias ao fundo, que era o lugar mais apropriado para eles no salão de culto. Como naquela época tomo mundo menosprezava os negros, ninguém se chocava com tais recomendações.

Bertold termina salientando que “nada deve parecer impossível de mudar”. A humanidade já deu vários saltos na ciência graças as pessoas que desafiaram o impossível. Agora cada um deve desafiar a si mesmo e procurar a revolução interna, desafiando seus defeitos e vícios, acreditando que possui virtudes e capacidades que o levará mais longe na vida. O educador, mais do que qualquer outro profissional deve ter consciência que seu trabalho é sacerdotal, é sagrado, é santo, e sua missão é transformar seus alunos em pessoas melhores.




“TÁ DIFÍCIL, MAS NUM TÁ IMPOSSÍVEL !!!”