Leia atentamente duas vezes o texto abaixo (primeiro leia silenciosamente e depois em voz alta, procurando reproduzir o ritmo):
“Canta-me a Cólera – ó deusa! – funesta de Aquiles Pelida,
causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta
e de baixarem para o Hades as almas de heróis numerosos
e escalrecidos, ficando eles próprios aos cães atirados
e como pasto das aves. Cumpriu-se de Zeus o desígnio
desde o princípio em que os dois, em discórdia, ficaram cindidos,
o de Atreu filhos, senhor de guerreiros, e Aquiles divino.
Qual, dentre os deuses eternos, foi causa de que eles brigassem?
O que de Zeus e de Leto nasceu, que, com o rei agastado,
peste lançou destruidora no exército.[...]”
Este é o início da Ilíada, na tradução de Carlos Alberto Nunes . Trata-se de um poema épico que na Grécia arcaica era recitado em lugares públicos pelos aedos e pelos rapsodos. Segundo o historiador inglês M. I. Finley, a Ilíada e a Odisséia representam o ponto culminante de uma longa tradição de poesia oral. Você pode verificar, lendo em voz alta, o ritmo e a melodia das frases que são elementos muito importantes na recitação oral.
Os “aedos” eram bardos que se deslocavam pela Grécia cantando o poema ao som da cítara para platéias formadas por homens nobres. Os “rapsodos” apareceram mais tarde, no século VI a.C., e recitavam oralmente, sem música, os poemas em ocasiões festivas ou celebrações oficiais.
Os dois poemas épicos constituíram uma cultura oral que tornou-se a base da educação dos jovens gregos.
O erudito alemão Werner Jaeger considera Homero o “educador da Grécia”, na medida em que a poesia e o mito funcionavam, na Grécia antiga, como modelo ético e guia de conduta para o homem livre.
Homero viveu no século VIII a.C., momento em que aconteceram transformações fundamentais na história grega:
HOMERO. Ilíada (Trad. Carlos Alberto Nunes). São Paulo, Ediouro, 1998, pág. 57- 8.
• A realização da primeira Olimpíada em 776 a.C., que foi escolhida como marco para a fixação do calendário grego;
• A introdução do alfabeto grego, derivado do fenício, que servia para representar as diversas variedades e dialetos do grego;
• O surgimento do oráculo de Delfos, dedicado ao deus Apolo e fundamental na religião grega (os textos chamam o oráculo de “Ônphalos”, que em grego significa umbigo, querendo dizer que Delfos seria o umbigo do mundo, seu ponto central):
• O aparecimento da pólis, a cidade-estado independente, que constituía uma estrutura política, econômica e social fundamental para o homem grego.
A época homérica (séculos VIII-VI a.C.) foi marcada por violentas lutas sociais opondo, de um lado, as comunidades aldeãs e os artesãos urbanos e, de outro, a aristocracia guerreira com seus privilégios hereditários. A monarquia micênica soube como se utilizar dos dois para controlar as atividades econômicas, realizar obras públicas como a construção dos palácios e promover empresas de conquista e colonização em regiões longínquas. Com a queda do sistema palaciano esse equilíbrio se rompeu e as tensões sociais afloraram. Era preciso encontrar um novo equilíbrio, que desse a cada um, uma função na sociedade. Esse equilíbrio foi encontrado, como veremos mais à frente, através da estrutura política da pólis, na qual todo homem livre é cidadão e pode participar do governo.
Como você pode ver Homero era considerado o educador da Grécia ele era visto como modelo ético e servia como guia de conduta para o homem livre. Na era Homérica houveram muitas transformações, também foi uma época marcada por violentas lutas sociais.
FONTE: Universidade Metropolitana de Santos