quarta-feira, 1 de junho de 2011

CARTA A ESTALINGRADO

 Esta poesia de Carlos Drummond de Andrade é uma exaltação a resistência dos russos a invasão dos alemães na cidade de Stalingrado. Esta batalha que ocorreu na Segunda Guerra Mundial foi considerada uma das mais sangrentas da história da humanidade. Fala-se que morreram cerca de 2 milhões de pessoas nesta batalha, dando início ao declínio do nazismo. (Por escriba Valdemir Mota de Menezes)


Carta a Stalingrado

Carlos Drummond de Andrade
De A rosa do povo



Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.

Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro
oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu
a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos
pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.

Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto
resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não
profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues
sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.

Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem
trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços
negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!

A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços
sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura
combate,
e vence.

As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma
fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão
contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

MINHA BEATRIZ

Sem nenhuma veia poética, fui obrigado a criar alguns versos sobre "BEATRIZ" em um trabalho da Faculdade de História, durma com este barulho....

Mas se os versos não tem rima nem compasso, não importa
Minha mãe e minhas filhas eu lembrei e é o que importa



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Fico me perguntado se fiz bem em trazé-la ao mundo

Um mundo de violência, sujeira e ódio

Mas de ódio é que você não é oriundo.




Gostaria menina de ser senhor do destino

e pudesse determinar todos seus passos

Mas o risco só não corre quem é cretino



O medo nos faz recuar

A coragem nos faz marchar

A fé nos faz acreditar



Em tormentas de incertezas

Por um triz

Quase não tive Beatriz.

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Através dela eu cheguei a luz

Seu rosto foi o primeiro que vi

Minha vida foi reproduzir

Tudo o que dela aprendi

Na infancia me criou

Hoje, homem, sou seu aprendiz

À Maria de Lourdes, minha "Beatriz"

terça-feira, 1 de junho de 2010

POESIA GREGA MODERNA

Patrícia Rizzo interpreta poesia grega - 06/11/2009 21h58




A poesia grega faz parte da história da humanidade. A produção atual não é tão conhecida como a da Antiguidade, de Horácio, Píndaro, Safo, Virgílio e outros. Mas essa poesia considerada moderna já ganhou o Nobel por duas vezes. O poeta Álvaro Alves de Faria comenta.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ouvir estrelas, de Olavo Bilac

Ouvir estrelas, de Olavo Bilac
Ouvir estrelas
Ora, (direis) ouvir estrelas!
Certo perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as
janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com ela? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

REFLEXÃO:

No meu entender, o autor se maravilhava com as estrelas no céu e pelo seu fascínio conversava com elas. Tudo o que admiramos na natureza, conseguimos nos relacionar com ela, se a pessoa tem um gato da qual gosta muito, ele dá carinho ao gato e se dirige àquele bicho como se estivesse falando com uma pessoa.

Assim também quem se maravilha com as estrelas chega a falar com elas, mesmo que seja aparentemente uma criatura inanimada, que não pode interagir com alguma expressão de emoção. A beleza das estrelas no olhar do observador já diz tudo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

DEFICIÊNCIAS, Mario Quintana

DEFICIÊNCIAS, Mario Quintana (escritor gaúcho nascido em 30/07/1906 e morto em 05/05/1994 .

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:

"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.

"A amizade é um amor que nunca morre."

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

CHICLETES (João Cabral de Melo Neto)

Para mascar com chiclets
Quem subiu, no novelo do chiclets,
ao fim do fio ou do desgastamento,
sem poder não sacudir fora, antes,
a borracha infensa e imune ao tempo;
imune ao tempo ou o tempo em coisa,
em pessoa, encarnado nessa borracha,
de tal maneira, e conforme ao tempo,
o chiclets ora se contrai ora se dilata,
e consubstante ao tempo, se rompe,
interrompe, embora logo se reemende,
e fique a romper-se, a reemendar-se,
sem usura nem fim, do fio de sempre.
No entanto quem, e saberente que ele
não encarna o tempo em sua borracha.
quem já ficou num primeiro chiclete
sem reincidir nessa coisa (ou nada).
2.
Quem pôde não reincidir no chiclete,
e saberente que não encarna o tempo:
ele faz sentir o tempo e faz o homem
sentir que ele homem o está fazendo.
Faz o homem, sentindo o tempo dentro,
sentir dentro do tempo, em tempo-firme.
e com que, mascando o tempo chiclete,
imagine-o bem dominado, e o exorcize.
(MELO NETO, João Cabral de. Poesias completas ( 1940-1965) . 4. ed. Rio de
Janeiro. José Olympio, 1986. p. 43.)






O poeta faz uma contemplação do ato de mascar chicletes e como o chiclete e o tempo são semelhantes, pois o chiclete ora se contrai, ora se dilata, assim a nossa percepção do tempo, tem coisas que parece que aconteceram a tanto tempo e outras que parece que foi neste instante.

Pátria minha (Vinicius de Moraes)

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades da minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto ajeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
A espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes".
(MORAES, Vinicius de, Poesia completa e prosa.
2. ed. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985. p. 267-9.)







Acima lemos o poema de Vinicius de Moraes em que ele homenageia o Brasil, sua pátria. Na leitura da poesia vemos diversas vezes citações de pequenos trechos do Hino Nacional. Vinicius durante o exílio sente profunda saudades do Brasil. Ele não vê sua pátria como uma mãe, mas como uma filha, o poeta sente pena da condição sofredora do seu país, e certa noite, na Inglaterra procurou no céu o Cruzeiro do Sul, como símbolo do Brasil, para quem sabe, matar um pouco a saudade do Brasil. Sua pátria é vista como uma mulher, e ele promete um dia voltar, não tardará.